Os Três Caballeros - o filme de animação da Disney de 1944

Os Três Caballeros - o filme de animação da Disney de 1944

Na época de ouro da cinematografia, um filme conseguiu quebrar os moldes, aliando a animação à realidade e propondo uma viagem fantástica pela América Latina. Estamos falando de “Os Três Caballeros”, produzido em 1944 por Walt Disney e distribuído pela RKO Radio Pictures. Uma obra-prima que celebra a décima aparição do Pato Donald no grande ecrã e que marca um momento crucial na evolução do cinema de animação.

Uma mistura inovadora de gêneros

“Os Três Caballeros” é uma mistura ousada e futurista de live-action e animação, uma alquimia que na época representou uma verdadeira revolução no campo cinematográfico. Lançado como o sétimo longa-metragem de animação da Disney, o filme é dividido em segmentos autônomos, conectados pelo fio condutor do Pato Donald (Donald Duck) abrindo presentes de aniversário de seus amigos latino-americanos.

Uma jornada musical e colorida

Quando pensamos no Pato Donald, pensamos nas aventuras cômicas e muitas vezes imprevisíveis que ele encontra. Mas neste filme Donald faz algo completamente diferente: viaja por vários pontos da América Latina, do Brasil ao México. A ele se juntam velhos e novos amigos como José Carioca, o papagaio brasileiro fumante de charuto que já havia aparecido em "Saludos Amigos", e Panchito Pistoles, um galo mexicano armado com uma arma.

Estrelas latinas no céu da Disney

O filme é enriquecido pela presença de estrelas do calibre de Aurora Miranda, Dora Luz e Carmen Molina, verdadeiros ícones latino-americanos da época. A sua contribuição acrescenta uma nova dimensão ao filme, tornando-o uma espécie de encontro cultural e artístico entre diferentes mundos.

Uma mensagem de boa vontade

Além da inovação técnica e da viagem encantada entre os países latino-americanos, o filme também se posicionou como um veículo de boa vontade para com a América Latina. Produzido num determinado período histórico, o filme buscou aproximar cultural e politicamente os Estados Unidos dos países da América do Sul.

Um legado que ainda vive

Desde 1944, muitas coisas mudaram no mundo da animação, mas o legado de “Os Três Caballeros” permanece intacto. Representa não apenas um ponto de referência no campo da inovação cinematográfica, mas também uma tentativa sincera de construir pontes entre diferentes culturas através da arte e da música.

A história

No ano em que o Pato Donald comemora o seu décimo aniversário, a Disney apresenta-nos um filme que é um clássico intemporal da animação: “Os Três Caballeros”.

Aniversário do Pato Donald e seus presentes incríveis

A trama tem como foco o aniversário do Pato Donald, evento festivo que acontece em um determinado dia: sexta-feira 13. O pato mais famoso do mundo recebe três presentes de seus amigos da América Latina. O primeiro é um projetor de cinema que exibe um documentário sobre aves, “Aves Raras”, protagonizado pelo Aracuan, ave de características excêntricas. O Aracuan, aliás, faz múltiplas aparições ao longo do filme, entretendo e irritando os personagens com suas ações imprevisíveis.

Um livro mágico e uma viagem ao Brasil

O segundo presente vem de José Carioca, um papagaio elegante, que dá ao Pato Donald um livro sobre a Bahia, um dos 26 estados do Brasil. Usando um pouco de magia, José e Pato Donald encolhem-se e mergulham no livro, descobrindo a vibração da cultura brasileira. Aqui eles conhecem alguns moradores locais, envolvidos em sambas. O Pato Donald é capturado pelo charme de uma garota, a vendedora de doces Yaya, interpretada pela cantora Aurora Miranda.

Aventura Mexicana e o Melhor Presente

Voltando ao tamanho normal, o Pato Donald abre seu terceiro e último presente. É aqui que conhece Panchito Pistoles, um galo antropomórfico originário do México. Os três personagens se unem sob o nome de “Os Três Caballeros” e tentam quebrar uma piñata, outro presente de Panchito. A celebração culmina com uma espetacular exibição de fogos de artifício formando um touro, com Donald sendo atirado para o alto e pousando ao lado de seus novos amigos.

Os episódios inesquecíveis

  1. O pinguim de sangue frio: Este segmento conta as aventuras de Pablo, um pinguim que abandona o Pólo Sul em busca de climas mais quentes.
  2. O Gauchito Voador: Um menino argentino e seu burro alado Burrito vivenciam uma série de aventuras inesquecíveis.
  3. Uma viagem à Bahia: Uma viagem fascinante por Salvador, capital do estado brasileiro da Bahia.
  4. Las Posadas: Uma tradicional celebração mexicana do Natal.
  5. México: Pátzcuaro, Veracruz e Acapulco: Um passeio aéreo pelo México em um sarape voador, aprendendo canções e danças tradicionais.
  6. Você Pertence Ao Meu Coração: O Pato Donald se apaixona perdidamente por uma cantora enquanto o céu da Cidade do México se ilumina.
  7. Os devaneios surreais do Pato Donald: Uma viagem psicodélica e caleidoscópica às fantasias do Pato Donald.

No panorama cinematográfico, poucas bandas sonoras conseguem unir diferentes culturas e tradições numa única e fascinante experiência musical. “Os Três Caballeros”, clássico de Walt Disney de 1944, faz exatamente isso, incorporando elementos sonoros que vão do folclore mexicano à música brasileira. Neste artigo, mergulharemos na rica paisagem musical do filme, explorando as origens e a importância de cada faixa individual.

Um trio de compositores

A trilha sonora original foi composta por um trio de músicos talentosos: Edward H. Plumb, Paul J. Smith e Charles Wolcott. A capacidade de combinar diferentes estilos musicais fez deste filme um clássico imortal.

Os Três Caballeros: Uma Homenagem a Manuel Esperón

A faixa-título, “The Three Caballeros”, tem melodia baseada em “Ay, Jalisco, no te rajes!”, icônica canção mexicana. Manuel Esperón, o compositor original, foi contactado pessoalmente por Walt Disney para incluir esta faixa no filme, com nova letra em inglês de Ray Gilbert.

O encanto da Bahia

“Bahia” é outro destaque da trilha sonora, baseada na música brasileira “Na Baixa do Sapateiro” de Ary Barroso. A peça capta a essência e o ritmo da cultura brasileira, enriquecendo a narrativa e contextualizando musicalmente a aventura do Pato Donald e companhia.

Vozes brasileiras e mexicanas

“Você já esteve na Bahia?” e “Os Quinns de Yaya” são canções originais brasileiras que foram adaptadas para o filme. Da mesma forma, “Mexico”, composta por Charles Wolcott, é uma homenagem ao folclore mexicano e representa a única peça totalmente original da trilha sonora.

Peças Instrumentais e Licenças

O filme também contém diversas faixas instrumentais, como “Pandeiro & Flute”, que, segundo Dave Smith, arquivista emérito da Disney, pode não ter sido composta especificamente para o filme. Outras peças instrumentais como “Jesusita en Chihuahua” e “Sobre las olas” acrescentam outras nuances culturais.

Conclusão: uma herança musical universal

A trilha sonora de “Os Três Caballeros” é um exemplo perfeito de como a música pode ser uma ponte entre diferentes culturas. Cada faixa representa uma peça de um mosaico maior de sons e significados, que continua a ser apreciado por gerações de ouvintes.

Ficha de dados

informações gerais

  • Título original: Os três caballeros
  • Linguagem original: Inglês, espanhol, português
  • País de produção: Estados Unidos da América
  • Ano: 1944
  • Duração: minutos 71
  • Relação: 1,37:1
  • gênero: Animação, Comédia, Fantasia, Musical

Produção

  • Dirigido por:
    • Diretor Supervisor: Norman Ferguson
    • Sequências do diretor: Clyde Geronimi, Jack Kinney, Bill Roberts, Harold Young
  • Roteiro: Homer Brightman, Ernest Terrazas, Ted Sears, Bill Peet, Ralph Wright, Elmer Plummer, Roy Williams, William Cotrell, Del Connell, James Bodrero
  • produtor: Walt Disney
  • Casa de produção: Walt Disney Productions
  • Distribuição em italiano: Filmes de rádio RKO

Técnico

  • Fotografia: Ray Rennahan
  • montagem: Donald Halliday
  • Efeitos especiais: Ub Iwerks, Joshua Meador, George Rowley, Edwin Aardal, John McManus
  • Música: Charles Wolcott, Edward H. Plumb, Paul J. Smith
  • Cenografia:
    • Ao vivo: Ricardo Irvine
    • Animadores: Don Da Gradi, Yale Gracey, Hugh Hennesy, Herbert Ryman, McLaren Stewart, John Hench, Charles Philippi
  • Diretor de arte: Mary Blair, Ken Anderson, Robert Cormack
  • Animadores: Ward Kimball, Fred Moore, Eric Larson, John Lounsbery, Les Clark, Milt Kahl, Hal King, Bill Justice, Frank Thomas, Ollie Johnston, Harvey Toombs, Milt Neil, Bob Carlson, Marvin Woodward, John Sibley, Don Patterson
  • Papeis de parede: Al Dempster, Art Riley, Ray Huffine, Don Douglass, Claude Coats

Cast

Intérpretes e Personagens

  • Aurora Miranda: Yaya
  • Carmem Molina: ela própria
  • Dora Luz: ela própria
  • Trio Calaveras: se stesso
  • Jogadores mexicanos: si mesmos

Dubladores originais

  • Sterling Holloway: Professor Holloway
  • Clarence Nash: Paperino
  • Jose Oliveira: José Carioca
  • Joaquim Garay: Pistolas Panchito
  • Frank Graham: narrador
  • Fred Escudos: velho gaúcho

Dubladores italianos

  • Stefano Sibaldi: Professor Holloway
  • Clarence Nash: Paperino
  • Jose Oliveira: José Carioca
  • Felipe Turich: Pistolas Panchito
  • Giulio Panicali: Pistolas Panchito (Las Posadas)
  • Emílio Cigoli: narrador
  • Olinto Cristina: velho gaúcho

Gianluigi Piludu

Autor de artigos, ilustrador e designer gráfico do site www.cartononline.com